quinta-feira, 11 de dezembro de 2008








Como me Apaixonei por Luísa

1. Vislumbres

Não sei se
Luísa ama-me
Amargamente
Ou apenas sinto o gosto da lava
Inundar meu coração
Amargurado.

2. Lolita

Luísa sempre teve gosto angelical
Tão “luz da minha vida” e os seios
Delicadamente postos em seu corpo
Dourado-moreno e a luz refletindo
Em seus quase-curtos cabelos louros.

3. Amor

Luísa é uma linha do caderno limpa
Um nu bonito, sem nada de vulgar.

4. Beijo

Fogos de artifício:
o último suspiro do enegrecer noturno.


(Ricardo Chagas)

domingo, 12 de outubro de 2008


 

Nostalgia 

 

            Meu único plano para o futuro é esse: Encontrar por um acaso a filha da Anastácia em uma rua chuvosa de São Paulo para marcar um encontro naquele velho restaurante perdido na memória. A janela de lá brilha tão dourado... Tudo se tratando da filha da Anastácia é dourado. Só os móveis, ás vezes,  que são brancos.

           Não sei se ela realmente se lembra de mim. Provavelmente só do nome e do formato do rosto. Sei que ela não é uma imbecil por completo, apesar da classe social. Adivinho um pouco o gosto literário das pessoas e o dela não é nada mal. Queria saber se ela me acha uma boa memória também, porque sinceramente, me incomodo bastante com o fato de eu e ela estarmos crescendo, quase que juntos, tendo que lembrar de coisas que mal fizeram sentidos para sobreviver.

            Sei que ela me acha engraçado. O riso dela foi diferente de todos os outros risos. Engraçado, mesmo. Não quero beijá-la no encontro. Não tenho a mínima vontade. Quero saber se ela ainda se lembra. Se ela ainda me entende. Eu nunca a conheci direito, mas me sentia bem quando estava mais perto O cabelo dourado radiava alegria. Sinto falta das palavras que ela pensava em dizer, mas nunca dizia; E se ela me contar alguma história que eu não me lembro mais, serei o homem mais feliz na face da terra. 


(Ricardo Chagas)

segunda-feira, 29 de setembro de 2008



Vida


Estou de volta em meu

Único rumo.

Quando retorno do trabalho

Uma garota branca me espera.

 Mãos-dadas, chá da tarde...

Dia-a-dia, sempre-sempre.


Sinto, finalmente, as costuras

Da droga da bola de baseball.


(Ricardo Chagas)

quinta-feira, 25 de setembro de 2008



Oceanos

 

1. Oceano Autobiográfico (A Não-Vastidão)

 

Fixa dentro de mim

Teu nome, a ânsia, “Eduarda”...

Presente imóvel

Dos dias que ainda não vivi

E já se passaram.

 

Cortei o cabelo

Tirei o esmalte

E a maquiagem.

 

Acho que virei homem.

 

Perdi meus amigos

As minhas musas

Para fora de mim.

 

Às vezes fora uma espuma

Ou a falta dos autobiográficos.

O mar por sua vez canta

 

Para Eduarda. As noites

Outrora, perdições nada empolgantes,

Sereias sem voz. Um traço, uma vírgula...

E dentro de mim Ágata traçando

Nossas reticências infinitas.

 

2. Bravura dos ecos de Eduarda


Sonharia! Fecho as mãos

E caio do penhasco.

Um
Beijo. (Sem

Nome).

 

Mesmo quando as pessoas vão embora

Eduarda não chora, nunca, nunca...!

 

3.Teu Amor


Se em uma noite qualquer

Eduarda e Ágata viessem

A se conhecer

 

Os beijos seriam muitos

Os olhos seriam gastos

E o sal que os machucam

Cortaria somente os lábios.

 

(Ricardo Chagas)

 

sábado, 6 de setembro de 2008


 

A Vida, esta Colher

 

I have measured out my life with coffee spoons;

 – T.S.Eliot

 

Todos tentam poesias sobre a vida

(Ou senão, tentam enxerga-la como uma poesia).

Até agora não me tenho lembrado de

Nada que eu tenha lido que parecesse

Um pouco mais que um breve e curto suspiro.

(A praça parada é pior do que parece).

 

Claro, a vida é monótona e tudo o mais

E não devia ser descrita em versos.

Às vezes, somos parte duma prosa mal-escrita,

Outras vezes, dum roteiro daqueles filmes que ninguém gosta.

 

(A Poesia são só os sonhos que não se realizam nunca!

E esta é a única parte deste poema que presta...)

 

Peço a todos vocês, sejam poetas ou não:

Não encarem a vida com tanta poesia nem

Façam poesias muito belas sobre a vida. Já não basta

A prosa ruim e o roteiro horrível. Para que, me digam,

Idolatrar (afinal, a poesia é para isso),

 

Uma coisa que no final das contas, te deixará abandonado

(E pior de tudo, aposentado) num banco de pedra da praça?

Vejam bem, nem melancólico é! Eu não consigo sequer

Fazer rimas. A vida, essa real a qual vivemos, é uma prosa que acaba

Com pombos achando que nossos pés são migalhas de pãozinho.

domingo, 17 de agosto de 2008



Alice Correndo e a Cor Branca

Não sei mais o que fazer com
O teu lindo sorriso azul do outro dia...
Há noites, como essa, que coloco
Outro travesseiro em minha cama

De veludo viúvo. Insólito e amargo
Tento abrir os olhos outra vez, para que,
Quando o fizer, eu já esteja do outro lado do espelho
Ou flutuando no teu exuberante sorriso de noite- piscina.


(Ricardo Chagas)

quarta-feira, 30 de julho de 2008


Poema Quase Falso


Alice me pediu um poema que fosse bonito
Então desenterrei com uma pá meio maluca
Os sonhos dos oito anos de dentro do coração.

Beatriz e os passos melancólicos de “Mamma Mia”
No quintal outonal da casa dourada... Alice
Queria um poema de ninguém para ninguém, então o escrevi.

Era sobre aquele poste mal-iluminado que ficava
Perto da cachoeira roxa daquelas poucas noites fracas...
Beatriz e seus olhos sonolentos beijaram-me os lábios e foram dormir.


(Ricardo Chagas)



terça-feira, 29 de julho de 2008


Mesa de Jantar para Centauros


Talvez eu tenha sido uma garota
A vida inteira. Acho que usei
Laços dourados no cabelo e nem
Ao menos percebi. Onde moram

Agora, as borboletas que outrora
Quiseram pousar em mim? Usei
Laços dourados no cabelo a vida
Inteira... Agora vejo porque tudo

Foge. Na verdade, somos outra
Pessoa, não aquilo que achamos
Que no real, sempre fomos. Alice
Sempre foi uma escrava louca em

Busca de um pouco de literatura
Européia. Drummond foi um
Funcionário público, não um poeta.
E eu já fui, talvez, aquela triste borboleta.


(Ricardo Chagas)

terça-feira, 15 de julho de 2008


OS QUATRO POEMAS DE COPACABANA


1. Sobre o Autor

Até os pepinos de mar
Rejeitaram meu cadáver.
Mas entendam que o ser humano é
Podre e independe da morte, mesmo assim .

As estrelas deviam ser grandiosas.
Os homens deviam querer morrer.
As mulheres deviam só chorar e
O outono devia aparecer sempre por aqui.

Não sou feliz escrevendo poemas.
Dificilmente serei feliz, seriamente
Penso em me abandonar para sempre.
Entregar meus braços para os braços

Dos braços e esperar abraços mesmo
Sabendo que não os ganharei. Os bons
Já desistiram, mas hoje sonhei com Alana.
Ás vezes sonho com Alice, que é tão bonita.


2. Copacabana

Meus sonhos morreram em Copacabana.
Perto do mar que acalma com a tardinha.
Perto dos mulatos que olham entediados
Através da velha e enferrujada sacadinha.

Não me importo com esses velhos malucos
Nem com a tão doce e estimada Alice.
Não me importar é o mesmo que sonhar.
Copacabana me deixou melancólico.


3. Troca de Olhares

Um dos velhos mulatos se levanta e me lança
O pandeiro empoeirado: Meus olhos.
Encaro, ainda melancólico, os seios do oceano
E vejo ali dentro, uma cabeça quase humana.

Finjo que gosto do medo, finjo que gosto de
Observar aquilo. Toda presunção dentro do
Poema. E o farol continua aceso mas não vejo
Mais o velho marinheiro. Uma mulher sem roupas

Acena pra mim. Acho que tenta me alegrar imbecilmente
Piscando as luzes do farol. Copacabana me deixa
Melancólico e com vontade de morrer. Acabei
Encostando em um coqueiro e dormi por ali mesmo.


4. Conclusão

Acabei morrendo lá em baixo, embaixo
Daquele coqueiro. Em Copacabana não tive
Nada além das memórias. E as tenho,
Todas, com detalhes agora que estou morto.


(Ricardo Chagas)

quarta-feira, 9 de julho de 2008


SEM ASAS
Chegou a hora de morrer pra valer.
Meu corpo fechado, tão cansado...
Tudo corre como água vermelha mas
O homem atrás da porta não cansa
De perceber. Tudo morre nos detalhes
Então, nossas vidas. Morrem pra valer. Hoje
Sou hoje. Não quero mais lembrar. Cansado
Vou sem remos para cima de um prédio
Muito velho. Caio sem pressa e o
Mundo inteiro me espera. É hora
De falar aos bons que tudo foi em vão.
E os vermes, enfim, devorar-me-ão em paz.

(Ricardo Chagas)



sexta-feira, 4 de julho de 2008


Otherland Alice

Agora posso petrificar
A poesia. Não pude
Petrificar A.C. ! Nem
A casa perto do cemitério.
Cabeças vão e vem em
Flashes que não existiram.

Roubaram-me o brilho e agora
Peço gentilmente que coloquem
Alice de volta no país das maravilhas.

Acham mesmo que ela queria voltar pra casa?


(Ricardo Chagas)

quinta-feira, 3 de julho de 2008


Enquanto Contemplo o Sol Humano


1.
Beatriz, seus ombros pequenos o loiro da
Vida o sorriso moreno que querias ter és
Branca alva mas não importa, sabe,
As cores todas combinam com você.

Já eu, querida Alice, não sou
Como você, colorida serena e viva.
Sou a máscara mais nua dessas tantas
Noites cinzas. (...) ninguém.


2.
Já vistes uma ponte sem caminho
Um desenho sem vitral, um brilho sem estrela?
Já vistes, Alice, um sorriso sem lábios
Ou um rabo vinho, sem sereia?

Queres o que? Os olhares sem
Amar ou o amor sem os olhares?
Um dia sem azul ou a noite no motel?
Inverta as ordens e tanto faz. (...) contraste.


3.
Caminha p´las calçadas. Sentirei falta
Dessa juventude serena e triste que
Tenho. Falta do perfume de Alice segunda. Falta
De Alice primeira e Beatriz sob a sacadinha.

Sentirei falta das bebidas, das escolas e
Das tardinhas voluptuosas, sem volúpias.
Sentirei falta do meu rosto jovial
E lamentarei as coisas novas. (...) as rugas.

4.
Sabes Beatriz? Te amo tanto mas
Tanto... Meu coração dói
Quando vejo-te passear sozinha na
Praia rubra, enquanto o cabelo penteia.

Sabes Alice? Não sabes, nem saberá.
Eu sou um corvo e tu um lindo sabiá.
Vago bêbedo por ruas ermas a bailar
Enquanto tu festejas a vida num lindo vestido
Lilás.


(Ricardo Chagas)

quarta-feira, 2 de julho de 2008


MEUS CACHOS PRETOS DAS MANHÃS, DOCE ALANA

Lembro que quando pulavas a sacadinha
Logo me apunhalava com um lindo sorriso....
Acenavas fraca contra a persistência dos ventos
E seus dentes abertos (tão roxos) mal se moviam.

Lembro daquelas manhãs inquietas que precisei
Do teu sorriso para sentir meus pés de volta.
As pernas de Alana serão sempre de Alana;
Mas suas palavras, porém, permanecerão mortas...

Lembro da menina lagarta bem perto de mim
Logo de manhãzinha, ao nascer do sol. Era
Parte da paisagem, a doce Alana... Até que
Os pregos de minhas mãos viraram pó

E o que restou do meu futuro virou bobagem
Até os garotos que não podiam tornaram-se
Homens e agora as lembranças são lembranças.
Mais do que de todas as outras, sinto falta sua, doce Alana....

(Ricardo Chagas)

quinta-feira, 26 de junho de 2008



PARA AQUELES QUE PREFEREM AS LAMPARINAS A ESTRELAS BRILHANTES

“Uma estrela brilha tão longe!”
Quão cansativo é falar essas bobagens...
Eu já não sinto nada! È como se
Um monstro debaixo da minha cama
Devorasse meus sonhos e alma e depois de algum
Tempo já esquecesse que eles tiveram importância.

Quando passo já nem gosto do meu cabelo
Refletido nos olhos das pessoas que o olham.
Um dia cheguei a gostar de ser um perdedor
Um caído de tudo e bêbedo no asfalto... Hoje
Não tenho nada a perder, e nem sou mais um perdedor.

Pra falar a verdade, até venci e surpreendi as
Pessoas que ao longo da porcaria da minha
Vida criaram alguma expectativa imbecil e
Chata em cima de mim e do meu cadáver ambulante.
Se dependesse deles eu estaria extremamente feliz.
Mas acontece que não é bem assim. Não é.

Eu nem ao menos sou um perdedor. Eu
Venci, e claro, aí vem o mais chato: Venci
Dentro do possível, dentro da minha suposta
Capacidade. Não me importo em não ser inteligente...
Prefiro sentir o perfume das rosas e ler seus motivos.
Eu me importo em ser visto como alguém que pensa
Porque todos que pensam, pensam só em porcarias.

Faz tempo que deixei de querer de lamber as pedras
Das praias mais bonitas. Pedi às garotas que se retirassem;
Algumas foram tristes, outras nem deram bola. O cabaré
Dentro de mim ficou sem suas dançarinas e agora não
Deixo entrar um cliente sequer. Há tempos não limpo aquela mesa;
Não gosto dos clientes novos. Não quero dançarinas novas.

Se pudesse, construiria uma casa igual aquela para morar.
Elas iriam gostar e ainda eu seria feliz. Meu coração se abriria
Entre o corredor e todos aqueles quartos perfumados. As
Garotas antigas e aquelas que conheci diante a lona da vida
Morariam comigo. Iríamos ao sótão tocar o maldito piano depois
Deitaríamos na cama mais bonita naquele quarto, o queijo na cozinha.

Repararíamos até nas noites menos estreladas. As estrelas
Nunca se importaram e eu nunca me importei com as estrelas.
O que importa as estrelas se as garotas estão lá comigo em uma
Casa tão bonita e cheia de lembranças? Por isso deixo as estrelas
Pra todas aquelas garotas chatas que não sabem sonhar e para todos
Aqueles poetas ruins que continuam a achar que precisam escrever bem
Para aí sim, se tornarem grande coisa. Virei um poeta por não ser grande coisa.


(Ricardo Chagas)

terça-feira, 24 de junho de 2008


Os Lábios Secos de Alana

Eu sou apenas um mero detalhe, em tudo...
Que Importa eu? Importa Alana!
(Ela apenas murmura: Seu nome é Ricardo!
Sei, porém, apenas seu nome, coitado...)

Uma menina de cabelos curtos e castanhos
Grita ao mundo que apenas naquele dia, teria sono.
Eu murmuro: Uma noite, Alana, ou o que sobrar,
Por que meus olhos são mais fundos que o mundo
E seus lábios mais cortantes que o mar!


(Ricardo Chagas)


terça-feira, 17 de junho de 2008



Batom dos Peixes (Dança das Sereias Marroquinas)

A borboleta voava, aflita
Pelas casas dos mil sonhos;
O homem torto que afogava
Era um velho amigo e marinheiro.

Desbravava inquieto os corações
Ilegíveis daquelas musas putas:
Beatriz Sofia Luísa Mary Anne
E todas outras garotas mudas...

Silenciada a alma, como se fosse
Café frio espalhado nas geleiras;
Noites que passavam tão frias
Horas incalculadas, sempre secas...

Depois de tantos invernos morenos
O velho marinheiro tentou de novo
Não conseguiu nada e voltou bêbedo
Pelas noites mortas, como um vândalo.


(Ricardo Chagas)



domingo, 15 de junho de 2008


Olhares Do Sobrado Acima

Na pele da sua vaidade
No cabelo do seu outono
Nos olhos do seu rio...

È na sua beleza de eternidade
Que construo parte da vaidade,
A qual o espelho insiste em despertar
Em mim

E se tivesse, às margens do nada,
Alguma palavra que descrevesse
A vontade que sinto em beijá-la,
Seria tolice - mas chegaria
Ao fim.


(Ricardo Chagas)

sexta-feira, 13 de junho de 2008



Poema Para os Sonhos do Coração

Assim queria eu meu coração
Camponês debaixo dos postes
Mal-iluminados e alguns vaga-lumes
Voando perto de minha boina.

Depois, na festa da vila tão pequena,
A dança desajeitada e um pouco
De timidez através das velas no meio
Do pasto tão vivo, como as estrelas.


(Ricardo Chagas)

quarta-feira, 11 de junho de 2008


Poema para Aquele Entardecer Inevitável ( ou A Falta que Sinto dos pingos do Chuvisco Naquelas Janelas)

A chuva molha.
O mais inevitável dos
Inevitáveis.

Dentro de todos nossos
Bonecos, há uma lagarta.

A cera e Deus, no mais,
Alimento dos peixes mais fracos.

O céu brilha e enfeita a quase-alma
Das garotinhas, homens de cinqüenta anos
E prostitutas de dezesseis.

Feche os olhos para abrir nunca mais:
A maior agonia de Deus é sentar na calçada
E ver que não há salvação naqueles
Que caminham na rua.


(Ricardo Chagas)



segunda-feira, 9 de junho de 2008


Templo do Amor

Iconoclastei poemas vivos
Em paredes imemoriais
Mesmo sendo ateu.

Não acredito que exista
Lisa Alice dos olhos Luísa
Sorrindo florida com a
Boca vermelha...

Plastei em suas costas quebradas
Um “R” enorme, em napalm.
Queimei o mar, o amor mas
Lamento toda por ti, minha doce Alice.


(Ricardo Chagas)


domingo, 8 de junho de 2008


Os Lábios

Não quero a poesia!
Quero os dentes abertos
O perfume de diamante
As pernas postas e as
Flores que guardei minha
Vida inteira, tão violetas...

Não quero a poesia.
Cansei, quero os dentes
Os lábios secos, a boca...
Quero tudo dela mas
Não os poemas...

É só voltar a escrever que tudo me foge
E mesmo sem minhas mãos para segurar
Gostaria de ao menos poder sentir seus lábios.
Do que adianta escrever se eu não os sinto?


(Ricardo Chagas)

sexta-feira, 6 de junho de 2008


Nas Patas do Elefante

Perdi todas minhas luzes
E espadas. Restou-me, por ora
Por sorte, metade duma aurora
Distante. E um gosto de morte.

Vi-as nascendo e dormindo.
Tentei acolhê-las e não consegui.
Era tarde da tarde... Queimava o
Cigarro. O céu brilhava púrpura.

Vi-as acordando e gemendo. Tentei
Respondê-las. Por ora, por tarde. Ontem
Tentei tatear o fogo com os pés. Senti-lo
Como se fosse um filho perdido.

Fiz alguns versos e logo fiquei orgulhoso.
Quebrei os ossos das mãos com um martelo.
Queimei satisfeito meus objetos de ouro e
Meu órgão humano nunca mais foi o mesmo.


(Ricardo Chagas)


quinta-feira, 5 de junho de 2008


O Poema Mais Bonito que Pude Escrever (Ou “A Verdadeira Saudade Tardia”)

Quem é o homem que te abraça
Nessa tarde tão maravilhosa?
Sei que é um amigo. Se fosse
Algum outro, não recortaria

A foto. Se fosse um namorado,
Eu saberia que mostraria seu
Sorriso que é tão amarelo de sol
E de felicidades dispersas pelo tempo.

Mostraria também o sorriso
Desse namorado, que seria vazio
E oco demais para brilhar muito.
Enfim, outro garoto que se apaixonou

Pelas qualidades erradas, enquanto
Eu, o garoto melancólico que poucas
Vezes conversara, te admirava longe
Com poucas esperanças e sinceras

Chances de beijos bonitos e um filme
Sem roteiro onde virarias a estrela brilhante
Mesmo não sabendo atuar droga nenhuma.
Nossos olhares têm sido muitas vezes assim.

Enquanto aprendes a ser sozinha, como
Escreves indiretamente para mim nas
Cartas da índia, eu aprendo a me recordar,
Esquecendo assim todas as noites do porque.

Sempre durmo depois que devia, me perguntando
Quando farei um poema bonito o bastante
Para você gostar ou quem é esse homem que
Te abraça numa tardinha quente. Amigo, amante?

Juro que nem me importo mais - É mentira.
Queria chamar-me como você e usar um chapéu.
Queria conversar contigo mais vezes naquele lugar.
Enfim, queria querer, verbo tão feio para se usar

Em poemas como esse. Mas tens um nome de flor,
Mesmo eu nem sabendo o seu significado. Não
Consigo terminar o poema. Acabo de encontrar
No fundo daquela caixinha, aquela foto platônica

Do cabelo mais curto. Hoje de manhã ignorou
Meu olhar. Porque? Porque olhastes pro outro
Lado? Enfim, eu me importo. Sei que não sabes quem sou.
Apenas converse comigo e voaremos juntos novamente.


(E as tardes melancólicas de outubro não passarão tão rápidas) .

(Ricardo Chagas)

terça-feira, 3 de junho de 2008


Close to Me (Perto de Mim)

Envolvido um pouco
Não pelas palavras de pouco caso
Ou pelos olhos castanho claro
da menina
(O coração escravo).

Nunca mais, uma pena...
Voa leve e afaga o incêndio.
A menina grita e se afoga nas fumaças
Reencarnadas de Nero.

Aguardo (in)quieto um olhar
Que sei que nunca vou ter.


(Ricardo Chagas)




Lobos e Corpos

Eu preciso de mais ossos
Em minhas faces.

O insubstituível sentimento
Outonal se esgotou
Nesse corpo de madeira esculachada.

Mas você esqueceu suas promessas e
O tronco derretido da sua boneca
De porcelana.

Agora tudo é pó e
O pó já está em meu nariz.

Nem pense em engolir ossos
Porque fogos de artifício nunca
Esperaram por mim.


(Ricardo Chagas)





segunda-feira, 2 de junho de 2008



Não quero o Mar

Já não quero fechar os olhos dentro d´água
Nem lamber as pedras das praias mais bonitas.
Alice, Eduarda, Beatriz, Sofia! Me perdoem!
As memórias matam... Sonhar, mais ainda...


(Ricardo Chagas)




OS LÍRIOS AMARELOS E AS GAROTAS QUE MUITAS VEZES PERDERAM SEUS SENTIDOS

Alice voa. O sorriso
De Sofia nasce no céu
Como quase um pôr-do-sol
Das tardinhas pós-chuvas.

Cassandra me abraça e isso basta.
Tardamos e
Conversamos sobre nuvens
Perdidas, sobre as pernas postas
E estrelas guias.

No campo de batalha
Rasgamos as poesias eduarda
Com adagas árabes perdidas.


(Ricardo Chagas)

domingo, 1 de junho de 2008



Lua Mística Sob os Pés da Garota Afogada

Deixou-me sob o peso da lua
Sem outonais esperanças;
Quero morrer porque estou deprimido.
Deixou-me sozinho no chá-com-torradas.

Foi pra sempre, assim
Como os adultos que foram jovens
Deixaram Caulfield para trás.

Assim como a borboleta deixou
Seu casulo confortável. (Chama-o
Confortavelmente de “passado”).

Tento esquentar minhas mãos
Na lareira sustentada pelas
Folhas rasgadas do Apanhador
E pelo sorriso bonito de Ágata.



(Ricardo Chagas)