quarta-feira, 26 de agosto de 2009



Plastic Palace Bia


Reviso meus textos e não encontro nada que preste.

Guarda roupa, um túmulo de alices esquecidas no além-alma.

Como cansa rabiscar “Alice” em todos os meus poemas.

Suspiro a vida que sempre será a mesma. As mudanças drásticas não existem ou

Prejudicam a saúde.

Coloco meu chapéu de caça vermelho e saio a procura de vida na cidade pacata. Um vaga-lume vermelho me mostra o caminho, mas eu encontro um morro, uma avenida e alguns amigos.

Passam os carros importados que acabaram de sair do sexto casamento da minha prima. Ela deve ter uns cento e dez anos, parece jovem e é eterna.

O motorista da avó não avó está usando pela primeira vez o perfume noite que ganhou no natal da sobrinha que pensava estar grávida e não estava. É um homem negro e triste que sorri.

Eu e meus amigos subimos o lado esquerdo do morro, a avenida cruza; o morro direito é escuro e sem vida.

Em cima do morro esquerdo descansa um templo protestante futurista: fontes ao redor e em cima da instituição branca chamam meu nome mais feminino:

- Biaaaaaaaaa (o céu anoitecido come meu coraçãozinho sensível)

Dentro do templo, a água escorre no chão e casais de negros conversam sobre a infância enquanto um homem com cabeça de piano chora melodias no palquinho.

Um balão enorme azul dourado com uma criança, uma moça de cabelos curtos e um cachorro de rua voam perto da lua pálida.

As pessoas dormindo chamam. Mas ninguém acorda.


 (Ricardo Chagas)


terça-feira, 4 de agosto de 2009



Sete Desencontros não Publicados ou Adeus, campo de centeio

Se eu não matar
Alice diariamente, a linha em branco
Foge
Depois morre nas montanhas feito espuma no nada.

Como um cigarro paralítico
uma lésbica triste
ou um elefante desnutrido
observo as paisagens andarilhas da menina.

Não me atrevo a gritar
Nem tentar fingir que pareço grande coisa.
A cortina que leva embora a sua voz
Despedaça-se em lamentos periódicos:

se é minguante, amor, coma uma estrela

uma cereja

uma sereia

ou a droga da última linha, em branco, para acabar de vez com a minha dor.


(Ricardo Chagas)