terça-feira, 14 de junho de 2011


O Rei

Pressa ten ta d i vidi r as cois as
era cousa.
Come o pudim na casa da avó
Trabalha de lenhador no dia-a-dia
Foi criança mas já passou.

Já é Maio de 2067, meu filho.
Os olhos precisam fechar.

(Ricardo Chagas)

quarta-feira, 8 de junho de 2011



Saoirse Ronan

O terno exercia certa
influência no jovem-adulto.
Entrava nos bares, bebia cerveja
e só agora havia aprendido a ignorar.
Até as mulheres.
Sua alma, de agora em diante,
Havia se tornado feminina.
Não exatamente com vagina:
se transformara num crossdresser espiritual.

Sendo assim, era sua própria musa.
Escrevia admirando o próprio membro, tornando-o invisível.
(sem o constrangimento de uma desnecessária mangina em frente ao espelho)
As palavras pesadas haviam perdido o sentido.
A vida acontecia em ritmo de prosa.
Que merda, em ritmo de prosa.
Mas era impossível quebrar os versos, por mais que a linguagem,
o vocabulário e todo o resto houvesse mudado.

Triste admitir, mas a vida caminha para se criar parágrafos.
E ponto final.
E letras maiúsculas desnecessárias para proceder o ponto final.

O legal seria escrever um livro inteiro com o título "Saoirse Ronan"
sem escrever uma palavra sequer sobre a boa capacidade de atuação da garota
ou mesmo sua estonteante beleza física. Há títulos que soam bonitos por acaso.
E esse poema é como se fosse um segundo disco dela, cantando qualquer coisa.

Transformar-se em jovem-adulto é uma tarefa improdutiva:
Você se torna produtivo.
Faz o mundo girar e tenta inovar e fugir do clichê, mesmo sabendo que não vai acontecer.
Começa a se imaginar como o crossdresser espiritual, um tipo de amante do espaço,
prostituto das estrelas. Enquanto tenta trabalhar e produzir.

Talvez eu escreva o livro com aquele título, mas um dia sei que vou queimar todos os cadernos e excluir todos os .txt's.
Suicídio de fênix, claro. É preciso estar preparado para deixar-se atingir por uma flecha e morrer.
Saoirse vive pulando no mar, em sonhos. e dentro do mar ela abre a porta de um quarto, mas a água não entra.
Em vinte minutos, ela tenta organizar os objetos jogados.
Seu olhar sempre pousa no binóculo do exército. Então ela sai para a sacada e está no alto de um abismo.
Veste o binóculo como se vestisse uma calcinha sensual de renda. Mira para cima.

Um astronauta crossdesser sem o uniforme se masturba publicamente no cinza. Saoirse a nomeia de Abismo-104.
Saoirse Ronan é a dona da lua.

(Ricardo Chagas)

terça-feira, 7 de junho de 2011


Saoirse Ronan

a risada melancólica cantada pelas ostrinhas
um fundo do mar sem muitas garotas, mas pouco me importa
(a vida é tão longe da Irlanda...)
o sabor egoísta de apunhalar travestis na rua
(quando digo travequinhos quero dizer desventurados)

Afinal
o fundo de todo mar é ilusão dos fanáticos religiosos
(pra quem não sabe, lá no fundo rastejam coisas asquerosas)
garotas servem para serem fodidas e descartadas
e a poesia é como apunhalar travestis:
por mais que você faça sangrar, os leitores sempre dirão coisas
como: "Obrigado por me compreender e fazer bem"

(Ricardo Chagas)