terça-feira, 22 de novembro de 2011


Curitiba 1896

algumas canções deveriam ficar apenas nos botequins
algumas garotas deveriam ficar apenas nos botequins
onde a poeira dos ratos caem nos copos colocados
enquanto correm pelo forro do teto sem reforma.

"issaqui tem gosto de merda", reclama um piá de bigode ajeitado
o garçom tenta explicar, mas trabalha ali há mais de 120 anos
e está tão cansado que deseja explodir o bandolim, que não para.
tão branca uma garota meio abismada com a vida troca de copo com o piá.

ela começa a sambar com uns passos meio gringos, mas faz bonito
os ratos observam, tristes, de uma fresta estreita no último tijolo;
um periquito de cores tropicais enfeita a entrada do botequim.
O balão que saiu da Itália sobrevoa, a negra da janela chora.

(Ricardo Chagas)


domingo, 13 de novembro de 2011




Estômago Vazio: Um bocado de Charutos Caros, Três Taças de Vinho do Porto para Ela, Três Copos de alguma India Pale Ale para Mim

parecendo uma Luísa velha, aparecestes novamente
com a bunda mais linda que da última vez
e com os dentes da frente separados.

tantas as ocasiões em que me acolhi no teu peito vazio
viestes em diferentes formas e nomes
mas o "ricardo" dito sempre foi minúsculo e provocante
como se em todas as vezes você estivesse pedindo por um pinto dentro de você.

um copo de cerveja laranja molha teu sorriso bonito,
bonito, tão bonito e simples como a própria palavra bonito.
indelicada é aquela que me ama e me suporta.
você é uma puta delicada, de essência feminina e vasta como os campos verdes da Irlanda.

a falta de inspiração me mata e você é, por essência, imbecil como ninguém (ou como quase todo mundo).
se queres mesmo saber, essa é a primeira vez em que a paixão termina antes do poema;
mas mesmo assim eu lhe devo este e alguns outros, pois há tempos estou bem para valer
(como eu odeio estar bem para valer! como os frios me fazem falta!)

é tarde da noite e estou esperando que você apareça magicamente em minha cama de viúvo
pois preciso enfiar a língua e o nariz em tua vagina semi-apertada
quero que você implore, chore, desobedeça minhas ordens e arranhe meus olhos
como se tivesses nascido para ser como uma espécie de amante cruel, desleal e suja
como se tivesses nascido para me ter, me engravidar ao contrário e sentir meus catarros escorrendo por suas pernas
seu buraco é tão lindo, Luísa, seu buraco é tão fundo que, se eu fosse me matar,
eu apenas colocaria o nariz dentro e esperaria.
(você poderia me ajudar dando uma mijada forte)

espero que você me faça e me assassine como no dia em que te conheci:
vagabunda fofa sussurrando em ouvido traiçoeiro.

(Ricardo Chagas)

quinta-feira, 6 de outubro de 2011


Heisenberg

seu sangue azul claro
(algo nitidamente cresce dentro de você)
talvez seja o temor,
(provavelmente é só o tumor)
apocalipse pessoal, sangue frio, suor:
a química de nada dar certo.
Deus trágico atrás de Deus sádico.

(Ricardo Chagas)

quarta-feira, 3 de agosto de 2011



As Póteses Imáginarias de Marina Flávia (ou "Uma Cobra Chamada Zaphod")

1. Dois Peixes Híbridos: Uma Cobra

os dois últimos peixes foram tão apertados
(quem dera tivessem sido apertados pra valer...)
a vida é assim mesmo: lenta de ruínas.
quando o musismo sentimental ousa se tornar doente
é hora de repensar, mudar e parar com a masturbação.

2. Marina Flávia Beeblebrox

o nome composto mais subestimado da face da terra é Marina Flávia.
Soa bem e não chega a ser clichê. São dois nomes que eu costumava odiar,
mas hoje gosto por soarem muito bem juntos, como se fossem uma fase da vida
onde uma ducha muito muito forte é mais que necessária.

por onde andei, os matos delicadamente me ajudaram a esquecer da poesia,
tornando-me parte daquilo, deixando mudo e imundo meu cérebro lento
separando da vida o conceito da vida.

3. O "Se" da Mutação 

Se eu fosse tentar resumir, resumiria em prosa. Esse poema é só
o esboço de um raciocínio que eu preciso esquecer.
Se mulher ligasse pra poesia, os seios e a vagina deixariam de ser necessários;
a rima meio que compensa a falta de "tudo isso" em mim.

4. Desnecessária

Não sou sério como gostaria de ser.
Detesto poemas autobiográficos, mas, não consigo evitar.
Engulo vírgulas propositalmente por não saber respirar
(na verdade isso acontece só quando escrevo sem ter pingado Neosoro.)
A música celta me acalma em doses cavalares e a popular brasileira, quando chorosa,
me deixa com vontade de mudar de pátria.
O individualismo passou a ser coisa natural depois que inventaram esses chuveiros/duchas
tão fortes que dá até vontade de chorar enquanto tomamos banho.
Marina Flávia só ficaria legal em uma filha legal.
Uma filha de duas cabeça, quem sabe.

(Ricardo Chagas)

sábado, 23 de julho de 2011



Sexo de Laboratório e Carpintarias Desnecessárias

dentro da vida eu introduzo o pinto vezes três
não importa o resultado, "só o processo",
Dizem por aí.
luzes machucam minha pele semibronzeada
mas eu gozo mesmo assim:
acelero o carro com os vidros abertos na garagem fechada americana.


...
Não morro, não!
Transcendo como um inseto
Laboratório inútil que me roubou o padrão
Bipes serpentinas vozes botões proibidos.

o Diabo e jesus, das Minas Gerais.
Como aquelas estátuas me fazem falta!
o laboratório é tão cinza e heterogêneo que me faz querer morrer de verdade.
Se eu morresse de verdade, sentirias minha falta
ou continuaria nesse seu azul mundo exato bonito desejado e fodido de maneira tão gostosa?

(Ricardo Chagas)

terça-feira, 14 de junho de 2011


O Rei

Pressa ten ta d i vidi r as cois as
era cousa.
Come o pudim na casa da avó
Trabalha de lenhador no dia-a-dia
Foi criança mas já passou.

Já é Maio de 2067, meu filho.
Os olhos precisam fechar.

(Ricardo Chagas)

quarta-feira, 8 de junho de 2011



Saoirse Ronan

O terno exercia certa
influência no jovem-adulto.
Entrava nos bares, bebia cerveja
e só agora havia aprendido a ignorar.
Até as mulheres.
Sua alma, de agora em diante,
Havia se tornado feminina.
Não exatamente com vagina:
se transformara num crossdresser espiritual.

Sendo assim, era sua própria musa.
Escrevia admirando o próprio membro, tornando-o invisível.
(sem o constrangimento de uma desnecessária mangina em frente ao espelho)
As palavras pesadas haviam perdido o sentido.
A vida acontecia em ritmo de prosa.
Que merda, em ritmo de prosa.
Mas era impossível quebrar os versos, por mais que a linguagem,
o vocabulário e todo o resto houvesse mudado.

Triste admitir, mas a vida caminha para se criar parágrafos.
E ponto final.
E letras maiúsculas desnecessárias para proceder o ponto final.

O legal seria escrever um livro inteiro com o título "Saoirse Ronan"
sem escrever uma palavra sequer sobre a boa capacidade de atuação da garota
ou mesmo sua estonteante beleza física. Há títulos que soam bonitos por acaso.
E esse poema é como se fosse um segundo disco dela, cantando qualquer coisa.

Transformar-se em jovem-adulto é uma tarefa improdutiva:
Você se torna produtivo.
Faz o mundo girar e tenta inovar e fugir do clichê, mesmo sabendo que não vai acontecer.
Começa a se imaginar como o crossdresser espiritual, um tipo de amante do espaço,
prostituto das estrelas. Enquanto tenta trabalhar e produzir.

Talvez eu escreva o livro com aquele título, mas um dia sei que vou queimar todos os cadernos e excluir todos os .txt's.
Suicídio de fênix, claro. É preciso estar preparado para deixar-se atingir por uma flecha e morrer.
Saoirse vive pulando no mar, em sonhos. e dentro do mar ela abre a porta de um quarto, mas a água não entra.
Em vinte minutos, ela tenta organizar os objetos jogados.
Seu olhar sempre pousa no binóculo do exército. Então ela sai para a sacada e está no alto de um abismo.
Veste o binóculo como se vestisse uma calcinha sensual de renda. Mira para cima.

Um astronauta crossdesser sem o uniforme se masturba publicamente no cinza. Saoirse a nomeia de Abismo-104.
Saoirse Ronan é a dona da lua.

(Ricardo Chagas)

terça-feira, 7 de junho de 2011


Saoirse Ronan

a risada melancólica cantada pelas ostrinhas
um fundo do mar sem muitas garotas, mas pouco me importa
(a vida é tão longe da Irlanda...)
o sabor egoísta de apunhalar travestis na rua
(quando digo travequinhos quero dizer desventurados)

Afinal
o fundo de todo mar é ilusão dos fanáticos religiosos
(pra quem não sabe, lá no fundo rastejam coisas asquerosas)
garotas servem para serem fodidas e descartadas
e a poesia é como apunhalar travestis:
por mais que você faça sangrar, os leitores sempre dirão coisas
como: "Obrigado por me compreender e fazer bem"

(Ricardo Chagas)

domingo, 8 de maio de 2011



Nevoeiro duma Madrugada de Domingo para Segunda

Pagamento de domingo:
Desmoralizar a aventura
Produzir modelos nuas
Locar filmes de horror.

Assistência mercenária.
Sozinho não há
Mas com você
Eu realmente não sei.

Serenata não é sereno,
Vejam bem...
Sentir-se bem é diferente
De amor, também.

Versinhos melados:
Se fosse há um tempo atrás
Sentiria vergonha de mim mesmo.
Mas eu mudei.

(Ricardo Chagas)

quarta-feira, 6 de abril de 2011


O Peixe Francano

F, ou peixe Branco,
em seus seios pequenos fadiga meu tesão imundo
nos lábios quentes a vontade de largar tudo, nos quadris
serenos um gosto quente de cerveja torrada.

A paixão é isso mesmo: quase beijos agora
Amanhã será sol, rotina, reclamarás etc, mas, enquanto estiveres enfim na cama comigo
Serás só amante de bom tamanho e braços abertos
e não reclamarás mais, pois o conforto terá ido embora e o tesão
terá sido substituído pela vontade de amar.


(Ricardo Chagas)

quarta-feira, 30 de março de 2011



Carta para a Garota Branca

quero-te deitada em sua maestria errada numa cama de motel barato
apenas para me mostrar delicado e beijar teus lábios sem simetria

chamar-te de peixe branco sagrado em ondas sexuais impossíveis
na beirada do teu ouvido bonito e pesado de observadora de tendências

se um dia eu insistir em voltar para casa, trate de queimar essa cartinha indecente
pois morro de medo de nunca chegar a ter uma conversa séria contigo.



(Ricardo Chagas)

domingo, 27 de março de 2011



Peixe Branco

quase uma nadadora unilateral
Ela veio como se fosse da água mesmo
arpões, barbatanas etc
mas não era daquelas sereias padronizadas dos filmes de fantasia
apesar do corpo esquelético e sensual
havia uma aura meio baleia, meio marinheiro
no fim, me levou pro fundo sem perguntar meu nome
(não que eu tenha me importado, claro...)
e mesmo no fundo, até hoje não consegui terminar a vida real
(e não há como não se importar com a parte prática da fantasia)


(Ricardo Chagas)

quinta-feira, 10 de março de 2011



Desbeatriz Anti-Lilás Pseudo-lixeira

O piano desatravessa Beatriz
Lhe mostra
A quebra
e depois a desilusão das maiúsculas
e a tristeza da falta de pontuacao

claro, ela já havia visto tudo isso
Quando criança atravessara o mundo
mas o piano insistiu até que fizesse sentido
e Beatriz continuou imbecil como sempre foi
apesar das insistências louváveis
ficou com medo de acordar e trepou
depois achou quem não devia bonito e deixou de ser tão bela.


(Ricardo Chagas)

quarta-feira, 9 de março de 2011


A Marcha Triste dos Carnavais Passados

Beatriz
Talvez a única Beatriz que tenha realmente me visto.
um abraço terno
um beijo despedaçado
um olhar encarado, perdido.

(Ricardo Chagas)

terça-feira, 8 de março de 2011



1990 - 2011

A morte desfaz até os feixes do sol
Destrói as janelas vermelhas dos bordéis
Se tiveres alguma sorte, destrói o seu quarto também.
O momento escapa.


(Ricardo Chagas)

sábado, 5 de março de 2011


As Paisagens Colocadas

as corvos e as corações
detestava as carroças infantis
mas masturbava pensando nela.

e se um dia a terra parir
virá uma filha loirinha loirinha
chamada serra atrás de serra.

(Ricardo Chagas)