quarta-feira, 30 de julho de 2008


Poema Quase Falso


Alice me pediu um poema que fosse bonito
Então desenterrei com uma pá meio maluca
Os sonhos dos oito anos de dentro do coração.

Beatriz e os passos melancólicos de “Mamma Mia”
No quintal outonal da casa dourada... Alice
Queria um poema de ninguém para ninguém, então o escrevi.

Era sobre aquele poste mal-iluminado que ficava
Perto da cachoeira roxa daquelas poucas noites fracas...
Beatriz e seus olhos sonolentos beijaram-me os lábios e foram dormir.


(Ricardo Chagas)



terça-feira, 29 de julho de 2008


Mesa de Jantar para Centauros


Talvez eu tenha sido uma garota
A vida inteira. Acho que usei
Laços dourados no cabelo e nem
Ao menos percebi. Onde moram

Agora, as borboletas que outrora
Quiseram pousar em mim? Usei
Laços dourados no cabelo a vida
Inteira... Agora vejo porque tudo

Foge. Na verdade, somos outra
Pessoa, não aquilo que achamos
Que no real, sempre fomos. Alice
Sempre foi uma escrava louca em

Busca de um pouco de literatura
Européia. Drummond foi um
Funcionário público, não um poeta.
E eu já fui, talvez, aquela triste borboleta.


(Ricardo Chagas)

terça-feira, 15 de julho de 2008


OS QUATRO POEMAS DE COPACABANA


1. Sobre o Autor

Até os pepinos de mar
Rejeitaram meu cadáver.
Mas entendam que o ser humano é
Podre e independe da morte, mesmo assim .

As estrelas deviam ser grandiosas.
Os homens deviam querer morrer.
As mulheres deviam só chorar e
O outono devia aparecer sempre por aqui.

Não sou feliz escrevendo poemas.
Dificilmente serei feliz, seriamente
Penso em me abandonar para sempre.
Entregar meus braços para os braços

Dos braços e esperar abraços mesmo
Sabendo que não os ganharei. Os bons
Já desistiram, mas hoje sonhei com Alana.
Ás vezes sonho com Alice, que é tão bonita.


2. Copacabana

Meus sonhos morreram em Copacabana.
Perto do mar que acalma com a tardinha.
Perto dos mulatos que olham entediados
Através da velha e enferrujada sacadinha.

Não me importo com esses velhos malucos
Nem com a tão doce e estimada Alice.
Não me importar é o mesmo que sonhar.
Copacabana me deixou melancólico.


3. Troca de Olhares

Um dos velhos mulatos se levanta e me lança
O pandeiro empoeirado: Meus olhos.
Encaro, ainda melancólico, os seios do oceano
E vejo ali dentro, uma cabeça quase humana.

Finjo que gosto do medo, finjo que gosto de
Observar aquilo. Toda presunção dentro do
Poema. E o farol continua aceso mas não vejo
Mais o velho marinheiro. Uma mulher sem roupas

Acena pra mim. Acho que tenta me alegrar imbecilmente
Piscando as luzes do farol. Copacabana me deixa
Melancólico e com vontade de morrer. Acabei
Encostando em um coqueiro e dormi por ali mesmo.


4. Conclusão

Acabei morrendo lá em baixo, embaixo
Daquele coqueiro. Em Copacabana não tive
Nada além das memórias. E as tenho,
Todas, com detalhes agora que estou morto.


(Ricardo Chagas)

quarta-feira, 9 de julho de 2008


SEM ASAS
Chegou a hora de morrer pra valer.
Meu corpo fechado, tão cansado...
Tudo corre como água vermelha mas
O homem atrás da porta não cansa
De perceber. Tudo morre nos detalhes
Então, nossas vidas. Morrem pra valer. Hoje
Sou hoje. Não quero mais lembrar. Cansado
Vou sem remos para cima de um prédio
Muito velho. Caio sem pressa e o
Mundo inteiro me espera. É hora
De falar aos bons que tudo foi em vão.
E os vermes, enfim, devorar-me-ão em paz.

(Ricardo Chagas)



sexta-feira, 4 de julho de 2008


Otherland Alice

Agora posso petrificar
A poesia. Não pude
Petrificar A.C. ! Nem
A casa perto do cemitério.
Cabeças vão e vem em
Flashes que não existiram.

Roubaram-me o brilho e agora
Peço gentilmente que coloquem
Alice de volta no país das maravilhas.

Acham mesmo que ela queria voltar pra casa?


(Ricardo Chagas)

quinta-feira, 3 de julho de 2008


Enquanto Contemplo o Sol Humano


1.
Beatriz, seus ombros pequenos o loiro da
Vida o sorriso moreno que querias ter és
Branca alva mas não importa, sabe,
As cores todas combinam com você.

Já eu, querida Alice, não sou
Como você, colorida serena e viva.
Sou a máscara mais nua dessas tantas
Noites cinzas. (...) ninguém.


2.
Já vistes uma ponte sem caminho
Um desenho sem vitral, um brilho sem estrela?
Já vistes, Alice, um sorriso sem lábios
Ou um rabo vinho, sem sereia?

Queres o que? Os olhares sem
Amar ou o amor sem os olhares?
Um dia sem azul ou a noite no motel?
Inverta as ordens e tanto faz. (...) contraste.


3.
Caminha p´las calçadas. Sentirei falta
Dessa juventude serena e triste que
Tenho. Falta do perfume de Alice segunda. Falta
De Alice primeira e Beatriz sob a sacadinha.

Sentirei falta das bebidas, das escolas e
Das tardinhas voluptuosas, sem volúpias.
Sentirei falta do meu rosto jovial
E lamentarei as coisas novas. (...) as rugas.

4.
Sabes Beatriz? Te amo tanto mas
Tanto... Meu coração dói
Quando vejo-te passear sozinha na
Praia rubra, enquanto o cabelo penteia.

Sabes Alice? Não sabes, nem saberá.
Eu sou um corvo e tu um lindo sabiá.
Vago bêbedo por ruas ermas a bailar
Enquanto tu festejas a vida num lindo vestido
Lilás.


(Ricardo Chagas)

quarta-feira, 2 de julho de 2008


MEUS CACHOS PRETOS DAS MANHÃS, DOCE ALANA

Lembro que quando pulavas a sacadinha
Logo me apunhalava com um lindo sorriso....
Acenavas fraca contra a persistência dos ventos
E seus dentes abertos (tão roxos) mal se moviam.

Lembro daquelas manhãs inquietas que precisei
Do teu sorriso para sentir meus pés de volta.
As pernas de Alana serão sempre de Alana;
Mas suas palavras, porém, permanecerão mortas...

Lembro da menina lagarta bem perto de mim
Logo de manhãzinha, ao nascer do sol. Era
Parte da paisagem, a doce Alana... Até que
Os pregos de minhas mãos viraram pó

E o que restou do meu futuro virou bobagem
Até os garotos que não podiam tornaram-se
Homens e agora as lembranças são lembranças.
Mais do que de todas as outras, sinto falta sua, doce Alana....

(Ricardo Chagas)