quinta-feira, 26 de junho de 2008



PARA AQUELES QUE PREFEREM AS LAMPARINAS A ESTRELAS BRILHANTES

“Uma estrela brilha tão longe!”
Quão cansativo é falar essas bobagens...
Eu já não sinto nada! È como se
Um monstro debaixo da minha cama
Devorasse meus sonhos e alma e depois de algum
Tempo já esquecesse que eles tiveram importância.

Quando passo já nem gosto do meu cabelo
Refletido nos olhos das pessoas que o olham.
Um dia cheguei a gostar de ser um perdedor
Um caído de tudo e bêbedo no asfalto... Hoje
Não tenho nada a perder, e nem sou mais um perdedor.

Pra falar a verdade, até venci e surpreendi as
Pessoas que ao longo da porcaria da minha
Vida criaram alguma expectativa imbecil e
Chata em cima de mim e do meu cadáver ambulante.
Se dependesse deles eu estaria extremamente feliz.
Mas acontece que não é bem assim. Não é.

Eu nem ao menos sou um perdedor. Eu
Venci, e claro, aí vem o mais chato: Venci
Dentro do possível, dentro da minha suposta
Capacidade. Não me importo em não ser inteligente...
Prefiro sentir o perfume das rosas e ler seus motivos.
Eu me importo em ser visto como alguém que pensa
Porque todos que pensam, pensam só em porcarias.

Faz tempo que deixei de querer de lamber as pedras
Das praias mais bonitas. Pedi às garotas que se retirassem;
Algumas foram tristes, outras nem deram bola. O cabaré
Dentro de mim ficou sem suas dançarinas e agora não
Deixo entrar um cliente sequer. Há tempos não limpo aquela mesa;
Não gosto dos clientes novos. Não quero dançarinas novas.

Se pudesse, construiria uma casa igual aquela para morar.
Elas iriam gostar e ainda eu seria feliz. Meu coração se abriria
Entre o corredor e todos aqueles quartos perfumados. As
Garotas antigas e aquelas que conheci diante a lona da vida
Morariam comigo. Iríamos ao sótão tocar o maldito piano depois
Deitaríamos na cama mais bonita naquele quarto, o queijo na cozinha.

Repararíamos até nas noites menos estreladas. As estrelas
Nunca se importaram e eu nunca me importei com as estrelas.
O que importa as estrelas se as garotas estão lá comigo em uma
Casa tão bonita e cheia de lembranças? Por isso deixo as estrelas
Pra todas aquelas garotas chatas que não sabem sonhar e para todos
Aqueles poetas ruins que continuam a achar que precisam escrever bem
Para aí sim, se tornarem grande coisa. Virei um poeta por não ser grande coisa.


(Ricardo Chagas)

terça-feira, 24 de junho de 2008


Os Lábios Secos de Alana

Eu sou apenas um mero detalhe, em tudo...
Que Importa eu? Importa Alana!
(Ela apenas murmura: Seu nome é Ricardo!
Sei, porém, apenas seu nome, coitado...)

Uma menina de cabelos curtos e castanhos
Grita ao mundo que apenas naquele dia, teria sono.
Eu murmuro: Uma noite, Alana, ou o que sobrar,
Por que meus olhos são mais fundos que o mundo
E seus lábios mais cortantes que o mar!


(Ricardo Chagas)


terça-feira, 17 de junho de 2008



Batom dos Peixes (Dança das Sereias Marroquinas)

A borboleta voava, aflita
Pelas casas dos mil sonhos;
O homem torto que afogava
Era um velho amigo e marinheiro.

Desbravava inquieto os corações
Ilegíveis daquelas musas putas:
Beatriz Sofia Luísa Mary Anne
E todas outras garotas mudas...

Silenciada a alma, como se fosse
Café frio espalhado nas geleiras;
Noites que passavam tão frias
Horas incalculadas, sempre secas...

Depois de tantos invernos morenos
O velho marinheiro tentou de novo
Não conseguiu nada e voltou bêbedo
Pelas noites mortas, como um vândalo.


(Ricardo Chagas)



domingo, 15 de junho de 2008


Olhares Do Sobrado Acima

Na pele da sua vaidade
No cabelo do seu outono
Nos olhos do seu rio...

È na sua beleza de eternidade
Que construo parte da vaidade,
A qual o espelho insiste em despertar
Em mim

E se tivesse, às margens do nada,
Alguma palavra que descrevesse
A vontade que sinto em beijá-la,
Seria tolice - mas chegaria
Ao fim.


(Ricardo Chagas)

sexta-feira, 13 de junho de 2008



Poema Para os Sonhos do Coração

Assim queria eu meu coração
Camponês debaixo dos postes
Mal-iluminados e alguns vaga-lumes
Voando perto de minha boina.

Depois, na festa da vila tão pequena,
A dança desajeitada e um pouco
De timidez através das velas no meio
Do pasto tão vivo, como as estrelas.


(Ricardo Chagas)

quarta-feira, 11 de junho de 2008


Poema para Aquele Entardecer Inevitável ( ou A Falta que Sinto dos pingos do Chuvisco Naquelas Janelas)

A chuva molha.
O mais inevitável dos
Inevitáveis.

Dentro de todos nossos
Bonecos, há uma lagarta.

A cera e Deus, no mais,
Alimento dos peixes mais fracos.

O céu brilha e enfeita a quase-alma
Das garotinhas, homens de cinqüenta anos
E prostitutas de dezesseis.

Feche os olhos para abrir nunca mais:
A maior agonia de Deus é sentar na calçada
E ver que não há salvação naqueles
Que caminham na rua.


(Ricardo Chagas)



segunda-feira, 9 de junho de 2008


Templo do Amor

Iconoclastei poemas vivos
Em paredes imemoriais
Mesmo sendo ateu.

Não acredito que exista
Lisa Alice dos olhos Luísa
Sorrindo florida com a
Boca vermelha...

Plastei em suas costas quebradas
Um “R” enorme, em napalm.
Queimei o mar, o amor mas
Lamento toda por ti, minha doce Alice.


(Ricardo Chagas)


domingo, 8 de junho de 2008


Os Lábios

Não quero a poesia!
Quero os dentes abertos
O perfume de diamante
As pernas postas e as
Flores que guardei minha
Vida inteira, tão violetas...

Não quero a poesia.
Cansei, quero os dentes
Os lábios secos, a boca...
Quero tudo dela mas
Não os poemas...

É só voltar a escrever que tudo me foge
E mesmo sem minhas mãos para segurar
Gostaria de ao menos poder sentir seus lábios.
Do que adianta escrever se eu não os sinto?


(Ricardo Chagas)

sexta-feira, 6 de junho de 2008


Nas Patas do Elefante

Perdi todas minhas luzes
E espadas. Restou-me, por ora
Por sorte, metade duma aurora
Distante. E um gosto de morte.

Vi-as nascendo e dormindo.
Tentei acolhê-las e não consegui.
Era tarde da tarde... Queimava o
Cigarro. O céu brilhava púrpura.

Vi-as acordando e gemendo. Tentei
Respondê-las. Por ora, por tarde. Ontem
Tentei tatear o fogo com os pés. Senti-lo
Como se fosse um filho perdido.

Fiz alguns versos e logo fiquei orgulhoso.
Quebrei os ossos das mãos com um martelo.
Queimei satisfeito meus objetos de ouro e
Meu órgão humano nunca mais foi o mesmo.


(Ricardo Chagas)


quinta-feira, 5 de junho de 2008


O Poema Mais Bonito que Pude Escrever (Ou “A Verdadeira Saudade Tardia”)

Quem é o homem que te abraça
Nessa tarde tão maravilhosa?
Sei que é um amigo. Se fosse
Algum outro, não recortaria

A foto. Se fosse um namorado,
Eu saberia que mostraria seu
Sorriso que é tão amarelo de sol
E de felicidades dispersas pelo tempo.

Mostraria também o sorriso
Desse namorado, que seria vazio
E oco demais para brilhar muito.
Enfim, outro garoto que se apaixonou

Pelas qualidades erradas, enquanto
Eu, o garoto melancólico que poucas
Vezes conversara, te admirava longe
Com poucas esperanças e sinceras

Chances de beijos bonitos e um filme
Sem roteiro onde virarias a estrela brilhante
Mesmo não sabendo atuar droga nenhuma.
Nossos olhares têm sido muitas vezes assim.

Enquanto aprendes a ser sozinha, como
Escreves indiretamente para mim nas
Cartas da índia, eu aprendo a me recordar,
Esquecendo assim todas as noites do porque.

Sempre durmo depois que devia, me perguntando
Quando farei um poema bonito o bastante
Para você gostar ou quem é esse homem que
Te abraça numa tardinha quente. Amigo, amante?

Juro que nem me importo mais - É mentira.
Queria chamar-me como você e usar um chapéu.
Queria conversar contigo mais vezes naquele lugar.
Enfim, queria querer, verbo tão feio para se usar

Em poemas como esse. Mas tens um nome de flor,
Mesmo eu nem sabendo o seu significado. Não
Consigo terminar o poema. Acabo de encontrar
No fundo daquela caixinha, aquela foto platônica

Do cabelo mais curto. Hoje de manhã ignorou
Meu olhar. Porque? Porque olhastes pro outro
Lado? Enfim, eu me importo. Sei que não sabes quem sou.
Apenas converse comigo e voaremos juntos novamente.


(E as tardes melancólicas de outubro não passarão tão rápidas) .

(Ricardo Chagas)

terça-feira, 3 de junho de 2008


Close to Me (Perto de Mim)

Envolvido um pouco
Não pelas palavras de pouco caso
Ou pelos olhos castanho claro
da menina
(O coração escravo).

Nunca mais, uma pena...
Voa leve e afaga o incêndio.
A menina grita e se afoga nas fumaças
Reencarnadas de Nero.

Aguardo (in)quieto um olhar
Que sei que nunca vou ter.


(Ricardo Chagas)




Lobos e Corpos

Eu preciso de mais ossos
Em minhas faces.

O insubstituível sentimento
Outonal se esgotou
Nesse corpo de madeira esculachada.

Mas você esqueceu suas promessas e
O tronco derretido da sua boneca
De porcelana.

Agora tudo é pó e
O pó já está em meu nariz.

Nem pense em engolir ossos
Porque fogos de artifício nunca
Esperaram por mim.


(Ricardo Chagas)





segunda-feira, 2 de junho de 2008



Não quero o Mar

Já não quero fechar os olhos dentro d´água
Nem lamber as pedras das praias mais bonitas.
Alice, Eduarda, Beatriz, Sofia! Me perdoem!
As memórias matam... Sonhar, mais ainda...


(Ricardo Chagas)




OS LÍRIOS AMARELOS E AS GAROTAS QUE MUITAS VEZES PERDERAM SEUS SENTIDOS

Alice voa. O sorriso
De Sofia nasce no céu
Como quase um pôr-do-sol
Das tardinhas pós-chuvas.

Cassandra me abraça e isso basta.
Tardamos e
Conversamos sobre nuvens
Perdidas, sobre as pernas postas
E estrelas guias.

No campo de batalha
Rasgamos as poesias eduarda
Com adagas árabes perdidas.


(Ricardo Chagas)

domingo, 1 de junho de 2008



Lua Mística Sob os Pés da Garota Afogada

Deixou-me sob o peso da lua
Sem outonais esperanças;
Quero morrer porque estou deprimido.
Deixou-me sozinho no chá-com-torradas.

Foi pra sempre, assim
Como os adultos que foram jovens
Deixaram Caulfield para trás.

Assim como a borboleta deixou
Seu casulo confortável. (Chama-o
Confortavelmente de “passado”).

Tento esquentar minhas mãos
Na lareira sustentada pelas
Folhas rasgadas do Apanhador
E pelo sorriso bonito de Ágata.



(Ricardo Chagas)