segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Lua-2 e o Amor Robótico







Lua-2 e o Amor Robótico

Seja na pureza dos teus olhos desanimados
Ou em tua delicada barriga transparente
Espero um dia te enfiar tão fundo
E econtrar-me com tua vagina fluorescente.


Aguardo as luas futuras morrerem, para um dia
Escutar teu eco fraco e raso se aproximar.
Preciso da tua voz rouca para me fazer dormir
E de teus veludos de segunda mão pra me ninar.


De tormentos e falta de momentos eu me criei
Para em uma madrugada, noutro mundo, te encontrar.
Nos tempos antigos fui de lágrimas para ser feliz


Mas hoje sou menino morto graças a tua ausência.
Como os pecadores que morreram sem confessar,
Foram das luas que passaram que eu me fiz.



(Ricardo Chagas)



quarta-feira, 26 de agosto de 2009



Plastic Palace Bia


Reviso meus textos e não encontro nada que preste.

Guarda roupa, um túmulo de alices esquecidas no além-alma.

Como cansa rabiscar “Alice” em todos os meus poemas.

Suspiro a vida que sempre será a mesma. As mudanças drásticas não existem ou

Prejudicam a saúde.

Coloco meu chapéu de caça vermelho e saio a procura de vida na cidade pacata. Um vaga-lume vermelho me mostra o caminho, mas eu encontro um morro, uma avenida e alguns amigos.

Passam os carros importados que acabaram de sair do sexto casamento da minha prima. Ela deve ter uns cento e dez anos, parece jovem e é eterna.

O motorista da avó não avó está usando pela primeira vez o perfume noite que ganhou no natal da sobrinha que pensava estar grávida e não estava. É um homem negro e triste que sorri.

Eu e meus amigos subimos o lado esquerdo do morro, a avenida cruza; o morro direito é escuro e sem vida.

Em cima do morro esquerdo descansa um templo protestante futurista: fontes ao redor e em cima da instituição branca chamam meu nome mais feminino:

- Biaaaaaaaaa (o céu anoitecido come meu coraçãozinho sensível)

Dentro do templo, a água escorre no chão e casais de negros conversam sobre a infância enquanto um homem com cabeça de piano chora melodias no palquinho.

Um balão enorme azul dourado com uma criança, uma moça de cabelos curtos e um cachorro de rua voam perto da lua pálida.

As pessoas dormindo chamam. Mas ninguém acorda.


 (Ricardo Chagas)


terça-feira, 4 de agosto de 2009



Sete Desencontros não Publicados ou Adeus, campo de centeio

Se eu não matar
Alice diariamente, a linha em branco
Foge
Depois morre nas montanhas feito espuma no nada.

Como um cigarro paralítico
uma lésbica triste
ou um elefante desnutrido
observo as paisagens andarilhas da menina.

Não me atrevo a gritar
Nem tentar fingir que pareço grande coisa.
A cortina que leva embora a sua voz
Despedaça-se em lamentos periódicos:

se é minguante, amor, coma uma estrela

uma cereja

uma sereia

ou a droga da última linha, em branco, para acabar de vez com a minha dor.


(Ricardo Chagas)

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Fragilidade e Atuação

 

            Apresento-lhes Clarissa: A loura triunfal é o trunfo da falta de senso, a leve folha de outono no chiqueiro, o treze de copas dos “porquinhos querem lutar”. Clarissa é o presente (ora passado), aquilo que quer conversar com agente e não temos condições sociais de responder. Entendam Clarissa como uma televisão que muda do sem cor ao colorido e quando colorido, as flechas que atravessam as frestas de uma parede a outra, até alcançar, de boca em boca, a ilusão.

            Clarissa aparece em todas as festas. Em todas. È um trilho de vai-e-vem nos lábios daqueles que querem ser. Até que ponto evitaremos as festas? Se Clarissa está ali, a outra Clarissa, nunca. A outra Clarissa é a voz do passado, o vai-e-vem do coração, um incoerente de coerência e nada de chiqueiro, mas a toca perdida de um coelho atrasado.

            Sei que um troço desses mata, mas, mesmo com tanta diferença do teu rosto aos outros rostos, a única coisa que conseguirá nas festas é a admiração dos tolos e dos junkies bonitos. Quem sabe um dia eu vá dançar ou tocar em uma festa; mas se o fizer, procurarei uma outra Clarissa, uma outra garota loura, pequenina, porque a alma é tão pequena e frágil como um lápis rabiscando um poema fraco no papel.


(Ricardo Chagas)

segunda-feira, 23 de março de 2009


O Primeiro Poema de Júlio Figueiredo (Ou Sem Nada Daqueles Tempos)


Só chama Ricardo

Quem perdeu a noite maior

Dentro do peito. Meu nome não é

Ricardo, mas é assim que me chamam.

Muitos que chamam outros nomes

Chamam Ricardo dentro de si.

Eu sou Beatriz, só Beatriz, de alma e corpo

Beatriz. Só é Beatriz quem nunca foi

Ricardo. Apenas eu sou Beatriz, pois é

Tudo o que me restou. Aquilo que eu tinha de

Ricardo, os carniçais famintos já comeram.

 

Ricardo é uma Beatriz que não foi.



(Ricardo Chagas)

terça-feira, 3 de março de 2009





O CONCEITO DE CULPA E POR ONDA ANDAVA LUÍSA E A NOITE

Ícaro, esse é mesmo teu nome?
Beatriz.
Esqueça as asas e coloque um vaga-lume no buraquinho do pinto. 

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009



Receita do Amor (Ou Aquele Poema Quase Apócrifo)


Para encontrar amor

Deixe de lado o casaco bonito

Aquele que imita tua atmosfera perfeitamente

Deixe de lado o perfume da casa que mais gosta e raramente visita

Nunca, nunca mesmo, se apaixone, para amar,

Transforme-se em um inseto insignificante e roa o coração da pseudo-namorada

E encontre, dentro dele, uma noite que não existe em Vila Rica.


Misture a noite com os olhos rubros da musa maior,

Veja o liquidificador girar feito a roda gigante dos sonhos de criança,

E, enquanto não fica pronto, suicide cortando a garganta com uma estrela sem-pontas.


(Ricardo Chagas)

terça-feira, 6 de janeiro de 2009


Drew Barrymore

Para não receber méritos

E ver o quão anjo eu sou

Viaje em um cavalo marinho

Até afundar no mais profundo

Dos profundos - Até encontrar o meu

Caleidoscópio

Doentio.


(Ricardo Chagas)