domingo, 12 de outubro de 2008


 

Nostalgia 

 

            Meu único plano para o futuro é esse: Encontrar por um acaso a filha da Anastácia em uma rua chuvosa de São Paulo para marcar um encontro naquele velho restaurante perdido na memória. A janela de lá brilha tão dourado... Tudo se tratando da filha da Anastácia é dourado. Só os móveis, ás vezes,  que são brancos.

           Não sei se ela realmente se lembra de mim. Provavelmente só do nome e do formato do rosto. Sei que ela não é uma imbecil por completo, apesar da classe social. Adivinho um pouco o gosto literário das pessoas e o dela não é nada mal. Queria saber se ela me acha uma boa memória também, porque sinceramente, me incomodo bastante com o fato de eu e ela estarmos crescendo, quase que juntos, tendo que lembrar de coisas que mal fizeram sentidos para sobreviver.

            Sei que ela me acha engraçado. O riso dela foi diferente de todos os outros risos. Engraçado, mesmo. Não quero beijá-la no encontro. Não tenho a mínima vontade. Quero saber se ela ainda se lembra. Se ela ainda me entende. Eu nunca a conheci direito, mas me sentia bem quando estava mais perto O cabelo dourado radiava alegria. Sinto falta das palavras que ela pensava em dizer, mas nunca dizia; E se ela me contar alguma história que eu não me lembro mais, serei o homem mais feliz na face da terra. 


(Ricardo Chagas)