O Outro Lado das Mil Luas (Ou  apenas"a lua que me esqueceu")

Quando amanhece

Outra lua aparece.

...e sempre amanhece.

Ela nunca é a mesma

Porém, uma serpente

Disse-me um dia:

"Sinta-se bem

Coma a maçã

Beba o veneno."

(palavras doces

que esqueceram de gravar

enquanto Joana morria)

Quando eu tiver asas

Verei outra lua

Morrendo no céu.

E quando a lua morrer

Eu serei o mesmo homem

triste tolo e tentado.

(e minúsculo, se inda der tempo de acrescentar)

(Ricardo Chagas)

A Falsa Imagem do Coelho

Levaram o ouro enquanto eu dormia

Raparigas imundas, outras tão louras

O jardim temia cair no esquecimento

Mas uma pedra que não era a minha mãe

Falou comigo quando eu menos precisava.

Não posso continuar sem cantar

Dizia a distorcida estrada amarela.

Foi dos meus piores corações que a tirei

Beatrizes que foram e deixaram gosto de morte.

(Das cartolas tirava as sardas de Alice)

"Carruagens em sonhos mal resolvidos

Passagens estreitas em território inimigo

Imagens de serpentes no altar do templo"

(Dos meus últimos anos de calçadas de pedra)

Funerais dos laços amarelos, azuis e laranjas

Vigas sem originalidade cairam do céu:

As calçadas já verdes e as raparigas passaram vivas

Sem significado algum fecho-me em cinza

Caubóis vazios que foram e agora não poderão ser.

(Ricardo Chagas)

O Inferno Moderno e as Musas Esquecidas

Os abrigos diabólicos fizeram-me mudar:

Tudo o que possuo são nuvens

Separações, serpentes e satanás.

As montanhas me abrigaram no anteontem

Monótono. As curvas das estradas eram triste

Pois não tinham vida como as mulheres sensuais.

Parei de me encontrar todos os dias no divã

Mudei-me para o inferno para conhecer o mundo.

Prossigo e atrás da estrada encontro um homem

Com uma mala. Viajante que desencontrou com a amada

E deixou os filhos pequenos para morrerem na noite.

O frio de seus cadáveres esquentaram os esquilos.

Os beijos meus com Beatriz foram beijos anoitecidos

Traços calados de palavras vazias e impuras.

Como o anteontem passou eu serei exclusivamente triste.

Para você, Beatriz, desencontrei-me do caminho divino.

(Ricardo Chagas)